sexta-feira, 21 de maio de 2010

Jogo da sedução


O que se diz de imediato sobre a sedução é que é um jogo.
Caçada silenciosa entre dois olhares;
Captura numa rede perigosa de palavras;
Jogo arriscado e fascinante - angústia e gozo

[onde o vencedor não sabe o que fazer com seu troféu..]
[e o perdedor só sabe que perdeu seu rumo:]

[um jogo cuja única possibilidade de empate se chama amor.]

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Quem diria


Quem diria que, depois de tanto tempo dentro de um mundinho de ilusão, eu fosse conseguir voltar para a realidade. Mesmo que essa realidade seja em outro mundinho de ilusão.Pelo menos os protagonistas mudaram.

Quem diria que tudo aquilo ficaria no passado.
Quem diria que viriam sorrisos depois de tantas lágrimas. Sorrisos por mim, não mais por outro, pelo menos até achar outro.
Quem diria que eu encontraria a pessoa certa estando com a errada? Mas como saber? Você pode ter perdido a pessoa certa por ter se encantado com a errada. Mas, se é errada, seu encanto não seria maior que o encanto da pessoa certa. E, se for, é porque os papéis estão invertidos aí.

Camila Medeiros

Momento certo


Uma vez alguém me falou que não existe a pessoa certa para a sua vida.
Existe a pessoa que está no momento certo da sua vida.
Se você também estiver no momento certo do outro, poderão dar certo sim, pelo menos por aquele período.


"Terminei porque não é a pessoa certa" - não. Foi a pessoa certa durante o tempo em que estiveram juntos. - a partir da hora em que seus momentos mudaram, a pessoa somente deixou de ser "a certa" para você.

Não acho que somos predestinados a um único ser humano entre bilhões. Temos vários amores e muitas confusões e, uma hora a gente acerta. Ou acertam a gente. Tanto faz. O que importa é que em algum momento da sua vida as coisas começam a se encaixar.

Camila Medeiros

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Vida interessante

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.
Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÂO.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero.
Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros..
Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante.

(Martha Medeiros - jornalista e escritora)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A Elegância do Comportamento


Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento. É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.
É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto.
É uma elegância desobrigada.

É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam.
Nas pessoas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca. É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas, por exemplo. Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros. É possível detectá-la em pessoas pontuais.

Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.

Oferecer flores é sempre elegante. É elegante não ficar espaçoso demais. É elegante você fazer algo por alguém, e este alguém jamais saber o que você teve que se arrebentar para o fazer... porém, é elegante reconhecer o esforço, a amizade e as qualidades dos outros.

É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro. É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais. É elegante retribuir carinho e solidariedade. É elegante o silêncio, diante de uma rejeição..

Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante. É elegante a gentileza. Atitudes gentis falam mais que mil imagens... Abrir a porta para alguém é muito elegante... Dar o lugar para alguém sentar... é muito elegante... Sorrir sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma... Oferecer ajuda... é muito elegante... Olhar nos olhos ao conversar é essencialmente elegante...

Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo. A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que independe de status social: Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os desafetos é que não irão desfrutá-la.


Adaptação de texto extraído do Livro:
EDUCAÇÃO ENFERRUJA POR FALTA DE USO


Henri Toulosse Lautrec (1864-1901) - pintor francês e deficiente físico

Realidade X Ilusão


Era fim de tarde, eu estragava o meu apetite com miojo cru, enquanto encarava a gaveta das blusas e argumentava em voz alta, “Posso levar um casaco, não sei se gosto de sair de manga comprida, e verde não é a minha cor. Será que ele vai?”. Telefone tocando.
- Alô. - Camila? É a Realidade, como é que você vai?
- Oi, quanto tempo, to bem sim, e você?
- Tudo ótimo também. Ta ocupada?
- Não, não. Tava aqui fantasiando um pouco, e você?
- To ligando pra saber quanto tempo vai demorar pra cair a ficha dessa vez.
- Como assim?
- Gata, não sei quanto tempo você passou de papo com o Entusiasmo, mas já ta na hora de cair na real...
- Acha mesmo?
- Desculpa, mas esse é o meu papel, e antes que fique ridículo, tenho que avisar pra você desencanar.
- Então ele não vai me ligar?
- Não.
- E se eu for naquela festa do amigo dele?
- A ilusão ta aí?
- Ta, ta lá na cozinha fazendo um miojo pra gente.
- Ai meu Deus... Quem mais ta aí?
- A nóia. Passou aqui pra me dar um oi, mas depois que começou a arrumar meu armário por tons, não conseguiu ir embora.
- Gata manda a nóia embora, e encara a ilusão de frente...
- Sei...
- Ele não vai te ligar, não foi dessa vez, ok? Alô, você ta me ouvindo??
- Péra... “eu já falei, não, não, fala você...”
- Camila? Com quem você ta falando? Põe a ilusão na linha agora!
- Oi, desculpa, ela não quer falar com você, disse que você sempre estraga tudo...
- Ah é?! Então avisa que eu to indo para aí levando a desilusão, e uma lata de leite condensado. Pra ela me atender agora!
- Alô. Olha Realidade, na boa, nem to com saco de discutir, eu sei que a gente não se dá bem e tal, mas o cara gostou dela que eu sei!
- Ilusão do céu!!! O cara sumiu, pára de ser assim, é pior pra ela! Cadê a Camila?
- No quarto com a nóia, já fiz o jantar das duas e como não quero briga com você, to indo pra casa...
- Deixa eu falar com a nóia.
- Não dá.
- Como assim não dá?
- Ela não fala mais pelo celular, parece que dá câncer sei lá... Você sabe como a nóia é.
- Sei, e a Camila?
- Péra.
- Oi, fala, é a Camila.
- E aí, ta melhor?
- To sim, nem precisa vim, já liguei pro bode e pra depressão, a gente vai ficar aqui em casa vendo Pretty Woman...
- Ok, de todo jeito tenta conversar com a solidão mais tarde.
- Ta, ela deve vim junto com a insônia... Deixa eu desligar, a nóia ta achando que a gente ta falando dela.

(Texto publicado na revista Lounge)

terça-feira, 18 de maio de 2010

Por quê?



Não precisa ser assim.
Só porque não te amo mais, não significa que não quero o seu bem!
Como vou dizer que alguém que foi tão importante na minha vida, não é mais 'problema' meu? Realmente não é, mas eu ainda sinto como se fosse. Como se eu tivesse falhado.
Isso é ridículo, assim como você e suas atitudes tão pequenas quanto o seu cérebro, por não conseguir entender a importância das palavras, dos gestos, dos atos e, de principalmente, assumi-los.
Eu evolui muito ao tentar te mostrar os caminhos. Uma pena você não ter conseguido trilhá-los pelo fato de eu não estar mais segurando a sua mão.
E então você fez o ato mais inteligente da sua vida: resolveu dar marcha ré.
Se quer estragar a sua vida novamente, problema seu. Só quero que minha indignação conste em ata.
Escreva aí: Ela fez o que pôde, até não aguentar mais. Ela sabe que o amor não se ensina, mas sabe também que, se isso fosse possível, ele não teria capacidade para entender.

Camila Medeiros [Abril/2010]

terça-feira, 4 de maio de 2010

Congelador da Mente

Engraçado. Eu não esperava que você voltasse, mas também não esperava que você partisse. Queria, na verdade, que você permanecesse estático enquanto a vida passava, enquanto a minha vida seguia.
Agora que você se foi, resolvi te guardar no congelador da minha mente, pra não correr o risco de você algum dia tentar me aquecer denovo. Ficará então, junto com tantos outros que, agora, já nem me lembro os nomes, nem suas histórias. Todos congelados por mim, numa tentativa insólita de que estejam realmente imóveis, só vendo o quanto eu fico bem sem vocês.

Camila Medeiros

Conto "de Fadas"



É, eu fiz você viver um conto de fadas, com direito a fada madrinha, gnomos, duendes, burros falantes e uma bruxa malvada.
Eu, que me preocupei em chegar em um cavalo branco para que você não tivesse dúvidas de que eu era a pessoa certa. Enquanto você não se preocupou se eu seria engolida pela areia movediça que a bruxa colocou em volta do seu castelo. E pior: ainda me encorajava a atravessá-la mesmo sabendo que seria impossível.
Eu fiz o seu papel. Ou melhor, eu fiz o papel que eu gostaria que você tivesse feito.
Mas ao final, você resolveu que isso tudo não existe. Se sentiu diminuído por ter feito o papel da princesa. E então você reagiu. Pena que não foi comigo, nem por mim.
Só lembre-se de que as bruxas são traiçoeiras. Elas saberão quando você estiver sonhando comigo. E aí então, não vai ter beijo da princesinha aqui, que resolva o seu problema.


Camila Medeiros
[Abril/2010]

Sou Forte



Eu sou forte.
Por mais que eu queira pensar que não sou, eu sou sim. Mas só depois de sobreviver é que a gente reconhece.
Às vezes quase me convenço de que sou fraca, quando lembro que desisti, que abri mão de algo ou alguém.
Pois bem. Agora digo-lhes que é exatamente por isso que sou forte.
Sou forte por ter conseguido escolher a mim ao invés de outra pessoa. Não, não foi fácil. Claro que não. Mas foi preciso. Com o tempo a certeza dessa decisão só se solidifica.
Sou uma fortaleza assim: nas minhas decisões, nos meus princípios, no meu caráter, na minha vida. Sou dura na queda. Mas quem, verdadeiramente conseguir ultrapassar essa barreira, verá que é tudo somente para garantir a segurança de que, lá dentro, a minha fragilidade permanecerá intacta.

Camila Medeiros [Março/2010]